Como o próprio nome sugere, a peça musical explora as diferentes situações vividas neste período - também considerado como o "segundo ato" da vida feminina. Em cena, os dois refletem sobre as inquietações, angústias, sonhos e desejos impactados pela maturidade e, consequentemente, pela menopausa.
Em entrevista à CNN, Claudia, que ou a sentir os primeiros sintomas há oito anos, conta que sua própria experiência serviu de incentivo para levar o assunto, ainda considerado tabu, aos palcos.
"Eu entrei na menopausa com 51 anos. Sofri uma intervenção do meu marido e dos meus filhos. Eles que descobriram que eu estava na menopausa, e eu toda sabichona achando que estava arrasando", brinca. "Eu não percebi, porque a gente está acostumada a lidar com os problemas e resolver os problemas. Mulher é assim e eu achei que era cansaço, estresse, mas na verdade eu estava toda ruim e comecei a compartilhar isso nas minhas redes sociais", recorda.
Jarbas, com quem atriz está casada desde 2018, afirma ainda que todas as histórias apresentadas ao público são reais. "Levamos o que a gente ouviu ou o que a Claudia vivenciou no processo dela. Tem ainda o que eu vivenciei como marido nessa fase de menopausa e climatério dela", acrescenta.
Muito além das mudanças corporais ou questionamentos sobre vida, carreira, autoestima, a obra busca romper o silêncio sobre as expectativas sociais diante de mulheres menopausadas.
"A menopausa vem acompanhada de outra palavra que se chama finitude. [É como um] 'acabou para você'. A sua falência ovariana faz de você inútil. Você não serve para mais nada. Isso está intrínseco na nossa mente, foi colocado pelo patriarcado que não sabe lidar com essa mulher tão poderosa, com essa mulher que é trinta por cento da economia mundial, que já tem sua autonomia financeira, artística, profissional e emocional", comenta.
Com texto e versões musicais de Anna Toledo, a produção chega acompanhada de uma roda de conversa ao final. "Eu preciso dizer sobre a minha experiência, do que está acontecendo comigo. Às vezes, fica parecendo que a gente é super mulher, mulher maravilha, com a Claudia Raia nada acontece, mas acontece sim. Eu estou ruim igualzinho a vocês e quero dizer isso", entrega Raia.
"Essa roda tem sido um bom aprendizado, ela nos alimenta. Ouvimos depoimentos, desabafos, tem muita troca. A gente aprende com o público. Nós acabamos nos descobrindo nesse processo o quão importante é falar sobre esse assunto, o quanto isso tem impacto na vida das pessoas. É bonito ver a transformação das pessoas", diz Jarbas.
Por fim, a protagonista relembra o quão necessário é ver a arte ocupando um local de serviço público. "Isso a gente não esperava. A menopausa é saúde pública, e é função do Governo criar possibilidades para pessoas que não têm o a reposição hormonal e todos os tratamentos necessários".
"Nosso ato político, enquanto artista, é estar em cena, falando sobre assuntos que são tabus, e tornando isso um serviço público", conclui.
SERVIÇO
"Cenas de Menopausa"